A semana termina em meio às péssimas notícias da vazante absurda que mata peixes, limita navegação e afeta tragicamente a vida de milhares de amazonenses que vivem e dependem das águas em seus beiradões.
Estamos perto de bater o recorde de 13,63 metros do rio Solimões, o nível mais baixo da história, em 2010.
Mas, na outra ponta, bem ao lado do rio Madeira, que também está quase seco, no município de Autazes, os cerca de 12 mil indígenas do povo Mura falaram alto e tomaram uma decisão que está sendo considera a porta de entrada de uma nova matriz econômica para o estado do Amazonas.
Os Mura aprovaram em assembleia a continuidade do Projeto Potássio, numa área distante 8 km de suas terras demarcadas. São 36 aldeias e 34 disseram sim ao Projeto. Nada menos que US$ 2,5 bilhões de investimento estão previstos nessa operação.
São 2.600 empregos na etapa de instalação, num prazo de 3 a 4 anos. Depois, na operação, outras 1.300 vagas diretas. Somando-se os empregos diretos, indiretos e agregados, os 40 mil habitantes de Autazes terão ao seu dispor, pelos meus cálculos, cerca de 8.000 carteiras assinadas só nessa atividade, por 23 anos, prazo de vida útil da mina.
Nenhum município do Amazonas gerou tantas vagas de uma só vez, nunca na história dessa região.
Potássio é bom para o agronegócio – que puxa o PIB brasileiro -, bom para os Mura, bom para Autazes, bom para o Amazonas e muito bom para o Brasil. Estamos falando de alimento na mesa das pessoas. De saída substitui 20% das importações. O Brasil importa 95% de todo o potássio que consome.
E os entraves jurídicos? Diálogo é o que falta. O novo secretário de tecnologia do estado, Serafim Correa, disse exatamente isso em entrevista. Falta entendimento, parar com o puxa e encolhe que transformou o projeto em cabo de guerra. De um lado FUNAI, ONG’s e o MPF. De outro a mais clara evidência de que um projeto dessa importância não pode ficar parado no tempo.
Não se trata de abrir mão da fiscalização, mas de compreender que impactos – inevitáveis em qualquer projeto dessa envergadura – podem e devem ser mitigados e compensados.
Erra a FUNAI ao propor demarcação de uma nova terra indígena justamente em cima da área do projeto. O argumento é que a terra é reivindicada desde 2003. Ora, já se passaram 20 anos e só agora, na ponta de todo o andamento do projeto, a FUNAI resolveu fazer essa demarcação? Com perdão da palavra rude, mas tem cara de sabotagem, é cínica essa proposta da Fundação.
Aliás, os próprios MURA, em assembleia geral oficial e registrada, descartaram uma nova área. Entenderam o que as ONG’s e FUNAI se recusam a entender, que eles serão os únicos e mais prejudicados.
Chega, chega dessa falsa e criminosa narrativa de que indígenas da Amazônia não querem se desenvolver, não querem produzir, não querem bens, não querem evoluir. O mundo infelizmente acredita nisso, tal a ferocidade de artistas, jornalistas e grande mídia quando apregoam. É mentira que indígenas querem viver em parâmetros medievais.
Enfim, Outubro chega com preocupações por causa da seca e com uma espetacular perspectiva de um projeto que representa muito mais do que o discurso falso e raso de quem não conhece um só palmo do chão que os Mura já trilharam lutando pela sobrevivência. Chega, chega de luta. Ao trabalho.