Texto: Paulo André Nunes/Pawe News |
Fotos: Euzivaldo Queiroz, Antônio Lima e Wilson Martins/Pawe News |
Por mais que não trouxesse o fim dos focos de incêndio e da fumaça, e nem que necessariamente signifique o fim da vazante no rio Negro, a chuva registrada na madrugada e manhã de sábado foi o bastante dar esperança de dias melhores para moradores ouvidos pelo portal PAWENEWS.COM.
Indicadores como o theweather.com e o Sistema de Vigilância Ambiental Selva (este último da Universidade dio Estado do Amazonas (UEA) mostraram que a qualidade do ar deste sábado é moderada, estando aceitável, porém, com alguns poluentes que poderiam levar risco de saúde moderado para um número reduzido de pessoas, que são excepcionalmente sensíveis à poluição do ar.
Trabalhadores de flutuantes de áreas como os lagos da Colônia Antônio Aleixo e Puraquequara disseram que a chuva tornou possível que eles pudessem a fazer atividades simples como levar uma canoa até uma embarcação. No primeiro lago, por exemplo, a água foi o bastante para criar córregos que tornaram possível a navegação de pequenas embarcações, como canoas.
Foi a oportunidade que o comerciante Tomé Maurício, 63, teve para deslocar sua canoa até o flutuante Tomé, de sua propriedade, cavando a terra para a mesma ser “invadida” pela água. Ele também frisou que a chuva ajudou a dissipar mais o ar e melhorar a visibilidade.
“Essa chuva que caiu hoje facilitou e amenizou um pouco da situação. Hoje tá até mais limpo o ar. Foi por isso que eu fui lá na canoa, pois ir me atolando não dava. Se não fosse a chuva não daria pra fazer isso. Vou fazer dez anos aqui e essa foi a pior vazante. Na década de 1960 houve seca maior, como em Coari, onde os peixes boiaram mortos. Só vai encher lá pra novembro”, disse ele, que mora no flutuante com sua esposa, Maria da Conceição.
“Nosso faturamento caiu 100%. Só conseguimos vender quando o rio tá cheio. E quando a água começa a ficar quente, até os botos saem daqui”, comentou ele que, nesta vazante, se vale do recebimento de um benefício do Governo Federal. Tomé alerta para a possibilidade de deslizamento dos barrancos existentes na área do Lago da Colônia Antônio Aleixo.
No mesmo local, o zelador do flutuante Paraíso das Águas, Nunes Fernandes de Matos, 34, contemplava o horizonte da vazante no lago quando foi abordado pela reportagem do PAWENEWS.COM.
“Essa seca foi muito grande esse ano. Já houve vazantes grandes anteriormente,mas como essa, não. É muito triste pois não há mais como sair pra pescar. Meu pai é prejudicado”, explica. Ele fala que “as vendas no flutuante caíram mais de 60% nesta vazante, já que as pessoas não têm mais vindo se divertir no local’.
E até os animais demonstraram sua alegria com a chuva. Foi o caso de um serelepe cãozinho que corria de um lado para o outro da vegetação aquática do lago, sem se importar de colocar as patas na lama.
Outros locais
O eletricistas automotivo Francisco Costa da Silva, 42, estava na manhã deste sábado no Lago do Puraquequara para pescar junto com amigos pescadores em um motor de propriedade do seu pai. Ele disse que a chuva já é prenúncio da chegada do inverno na região amazônica.
“A seca deste ano é histórica, e em 42 anos de vida a última vez que vi uma dessas eu tinha na faixa de 13 a 14 anos. Na época eu cortava peixe com a palheta de motor. O temporal dessa madrugada já é para começar o inverno. Já é um prenúncio, pois no dia 2 de novembro dá um repiquete (quando as águas sobem por conta das chuvas) para nós aqui. Ano passado isso ocorreu dia 15 de novembro, mas o certo é ser depois do Dia de Finados. Daqui para a frente, em termos de pescaria, se essa água não voltar vai ficar difícil. Os peixes que nós soltamos na água, como o arudá e o pacu branco, é o peixe que as pessoas vão procurar porque eles somem com a época da desova”, destaca ele.
Francenilson conta que na pescaria, eles e os amigos utilizam uma embarcação tipo “rabeta”, de alumínio, que facilita a navegação no lago de águas rasas. Nestes dias de vazante, ele conta pescar cerca de 200 quilos mas, na cheia, a produção é o triplo.
O Lago do Puraquequara traz outro cenário degradante: a existência de carcaças de gado que, além de mostrarem um cenário desolador, também exalam podridão.
E em meio à seca, um quase oásis: o comerciante Isaac Cícero Rodrigues, 56, cavou, há um mês, um poço que serve para abastecer o flutuante onde vive com a esposa e a filha. “Essa seca foi uma das piores que eu já presenciei na vida. Sou natural de e moro aqui em Manaus há 23 anos e nunca vi igual. Nós que trabalhamos com vendas fomos diretamente afetados.
Estamos em uma área isolada onde não entra nem sai ninguém. Não estamos vendendo nada e vivemos com a ajuda de uma igreja evangélica onde congregamos. E fizemos essa cacimba, pois nem os pássaros conseguem beber a água do rio”, disse ele, que nasceu em Eirunepé (distante 1.245 quilômetros de Manaus).
Isaac conta que a chuva amenizou mais a “quentura graças a Deus e que o dia de hoje foi tranquilo, diferente de sexta-feira quando a área estava ‘fechada’ de fumaça e com alta temperatura”.
Lixo
Em outros locais da seca do rio Negro na capital, o cenário de estiagem era também desolador, mas com um complicador a mais: a concentração de grande quantidade de lixo que veio à tona com a descida das águas. Era o caso do mirante do São Raimundo, na Zona Oeste da cidade.
No Centro de Manaus, o Porto da Manaus Moderna apresentava várias embarcações ancoradas nos grandes bancos de areia formados pela seca. Próximo dali, a histórica régua do Porto de Manaus, o Roadway, aguarda para ser atualizada com uma das maiores vazantes do rio Negro.